Sandro mesquita

Sobre educação

Sandro Mesquita
Coordenador da Central Única das Favelas (Cufa) Pelotas e Extremo Sul
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Apesar do ano já ter começado para muitas pessoas e setores da sociedade, ainda temos algumas pessoas de férias. Há quem diga que o ano começa em março, se movimentando só depois do Carnaval. A verdade é que existem coisas, pautas e situações que estão sempre exigindo de nós, da sociedade e sobretudo dos gestores atenção integral, 24 horas por dia, 365 dias por ano, não somente quando setores e serviços precisam ser acessados ou de acordo com calendário que engessa debates, pautas e construções.

Vejamos a educação. Parece haver um período para se preocupar com as estruturas física, material e de gestão das escolas. Daí, quando começa o ano letivo, se colocam nos telejornais, nas pautas das redações, nos conversas de profissionais da área, nos comentários da população em geral, pais e alunos, os problemas estruturais que envolvem a gestão pública da educação que vão desde piso salarial da classe, passando por infraestrutura das escolas e sem esquecer do próprio desempenho dos alunos e professores.

Ficamos de novembro a fevereiro - ou de dezembro a março - como se não houvesse retorno aos bancos escolares, com os problemas arquivados, a pauta congelada. Vivendo como se não houvesse amanhã.

Vamos por partes. Há quanto nós ouvimos que o magistério deveria ser mais valorizado por ser a profissão que "gera" profissionais para tantas outras profissões? Sobre o quanto é desproporcional o salário de um professor comparado a outras profissões que talvez tenham menos prestígio ou importância social, se assim podemos dizer?

Há quanto ouvimos falar da infraestrutura das escolas de ensino básico, onde telhados estão cheios de goteiras, instalações elétricas comprometidas, merendas estragando ou insuficientes em quantidade e qualidade, falta de laboratórios de informática, de aparelhos eletrônicos, bibliotecas, espaços pra desenvolvimento físico? Sobre diretores que, com suas equipes às vezes professores, às vezes comunidade escolar, desenvolvem mecanismos pra ajudar em alguma área para gerenciar os poucos e escassos recursos repassados

Acesso ao conhecimento, capital-intelectual. É sobre isso que estamos falando. Sobre o principal gerador de valor e riqueza sem o qual o Brasil não se transformará em uma potente nação, sem o qual o País não conseguirá reduzir as desigualdades sociais. Sem o qual não teremos população liberta e consciente.

Precisamos lidar com os programas, projetos de formação e qualificação, com os planos educacionais com mais seriedade, vontade, com mais desejo. E ver essas construções como uma política social capaz de mudar o rumo do País e a vida das pessoas.

A qualificação dos primeiros anos das escolas, juntamente com um pré-trabalho desenvolvido na primeira infância nas creches e programas ligados à essa faixa etária, fortalecerá uma identidade de estudantes, de crianças, jovens e adolescentes com disposição ao aprendizado e com ambição ao Ensino Superior, onde chegarão com qualidade melhor de abordagem, criticidade, curiosidade.

Não estou aqui falando nenhuma novidade e também não estou aprofundando as questões que estão postas ao tema, que são muitas, distintas em alguns aspectos e que merecem não só um debate, pois tenho o entendimento que muito já foi falado. Mas, sobretudo, precisamos de olhares sensíveis e misericordiosos, vontade política e humanidade para implementar, colocar em prática, tirar do papel tudo aquilo de bom que já foi construído em seminários, encontros, reuniões do setor e que, por algum motivo, ficou arquivado, caiu no esquecimento ou não teve verba suficiente pra ser desenvolvido.

Bom início de ano letivo para nós!

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